Falar sobre a Carlos Penna é falar sobre um processo contínuo de construção. Construção de marca, de pensamento e de linguagem. E a nossa presença em tantas passarelas, durante estes primeiros dez anos, faz parte desse processo.
Sempre entendi o desfile como um território de criação, não somente de exibição. O primeiro, dentro do Minas Trend, com a Plural, em ANO, aconteceu como um susto. Mas acabou tornando-se um ponto de partida dessa trajetória que une emoção, técnica e intuição. Na temporada seguinte, já faríamos cinco de uma vez.
Hoje, a Carlos Penna consolidou-se como uma plataforma, colaborando com nomes diversos e transitando por universos distintos — já estivemos em apresentações na Casa de Criadores, SPFW, DFB Festival, Copenhagen Fashion Week e London Fashion Week; sem contar os vários desfiles que não estavam em um evento. Essa pluralidade faz parte do nosso DNA, mas o que mais orgulha é ter mantido uma essência certa: a criação como motor e o respeito como base.
Com o tempo, percebi que um desfile não é um fim, mas um gesto de pesquisa. É um lugar para pensar, experimentar e traduzir visualmente uma ideia. Quando um estilista confia em mim para compor a narrativa visual de uma coleção, o que se estabelece é um diálogo de universos. O acessório não é um mero adorno, é uma ferramenta de comunicação; toda criação carrega uma intenção. O papel aqui é dar forma a esses diálogos, transformar ideias em matéria e traduzir conceitos em textura, volume e brilho.
Sigo batendo na tecla de que o acessório deve ser reconhecido pelo que é: parte essencial da construção da imagem de moda. Nenhuma marca cria sozinha. Por trás de cada desfile, existe um conjunto de mãos e olhares que constroem, em conjunto, essa mensagem. O acessório é parte da voz da roupa e é nesse entrelaçamento que encontramos a nossa força.
O tempo também ensinou a dizer “não”, a reconhecer quando é preciso pausar para respirar e repensar. Em 2025, depois de mais de 160 desfiles desde o início da marca, vivemos uma quebra proposital. Participamos apenas de um, no primeiro semestre, e nos preparamos para assinar seis no SPFW N60, que começa hoje. Foi um momento tão estranho quanto libertador. Mas uma decisão consciente, para entender o que realmente queremos construir daqui para a frente. Com isso, ficou claro que a pausa também é criação.
Hoje, a Carlos Penna vive um novo momento, que começa a aparecer agora. Há um novo olhar sobre tudo o que construímos. Continuamos acreditando na potência da passarela como espaço de pesquisa, mas ampliamos ainda mais o olhar para o processo, para o que acontece antes e depois. Trabalhar com marcas e pessoas em que acreditamos — como Luiz Claudio Silva, Gustavo Silvestre, Karoline Vitto, Airon Martin e tantos outros — permitiu entender o valor da colaboração como o caminho certo.
A criação não pode ser um território de disputa. A cada parceria, há um aprendizado e um mergulho de pesquisa que acaba refletido além da passarela. O desfile é efêmero; o processo do gesto é o que fica. O que move é a troca e cada desfile também é um espelho. Há momentos em que o traço aparece com força; em outros, diminuímos. Esse é também um amadurecimento do design: saber ouvir e ajustar o tom.
Um desfile, para nós, é como um escape. É onde se pode experimentar, testar materiais, errar e sonhar. É onde encontramos respiro no meio do caos. O processo precisa tanto do espaço para o imprevisto e para o risco quanto da liberdade para criar. Muitas das técnicas e pesquisas que nascem para uma passarela voltam, depois, nas coleções da própria Carlos Penna. Nada se perde; tudo se transforma nesse caminho.
O que mais inspira é perceber que ainda há espaço para o encantamento. Continuamos aprendendo e nos emocionando ao ver o resultado final. É essa a vontade com a Carlos Penna: ser um espaço de liberdade, experimentação e afeto. Um espaço onde o acessório tem voz e a moda volta a ser o que sempre foi: encontro.