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#2 — 11.25

Entregamos mais uma etapa de SPFW, participando de seis desfiles. Se há algo que os últimos meses me ensinaram, como comentei na newsletter anterior, é que o tempo transforma a criação. Ele afia o olhar, amplia o gesto e dá espaço para que a matéria respire. Depois de uma década vivendo o ritmo intenso para as passarelas — muitas vezes movido pelo imediato — pude entender que a pesquisa se fortalece quando amadurece. Quando se pode ir e voltar. Quando é permitido errar, testar, refazer. Quando uma ideia tem a chance de virar corpo com calma.

Essa temporada me trouxe exatamente isso: a oportunidade de me aprofundar em processos que pediam mais do que fôlego, pediam persistência. Cada colaboração teve um tempo próprio de nascer. Desde a trama que construí junto com Gustavo Silvestre por meses, onde o metal deixou de ser apenas inserido e passou a fazer parte da própria arquitetura do tecido feito à mão; até os experimentos misturando a pedra têxtil com cascas de sururu nas peças da Foz, que exigiram semanas de testes para ganhar resistência e sentido. Ou a longa troca com Luiz Claudio para a Apartamento 03, parceiro de várias coleções, com diálogos que duraram quase um ano. Sem contar a liberdade de criação aberta por João Pimenta, nossa primeira colaboração, Led e Ateliê Mão de Mãe.

Nada foi instantâneo.
Nada poderia ter sido.

Talvez por isso essas seis histórias tão diferentes conversem entre si. Elas se unem pelo pensamento que as sustenta: a vontade de experimentar materiais, narrativas e técnicas que ampliam o que é possível dentro da Carlos Penna. Mesmo em diálogos com universos distintos, existe um traço que permanece — essa busca constante pelo inesperado, pelo que escapa do lugar comum, pelo que me tira do automático.

Sinto que me permiti mais. Não apenas como designer, mas como pessoa. Respeitei meus próprios limites e, ao mesmo tempo, me desafiei a cruzá-los quando necessário. Aprendi a me ver dentro da trama, dentro da roupa, dentro do processo do outro. Descobri que colaboração é também espelho — ela devolve partes de mim que às vezes ficam escondidas no dia a dia da criação.

Esses 10 anos abriram uma dobra no caminho. Um convite para revisitar a essência do início — aquele impulso de testar materiais que ninguém imaginava que pudessem virar acessórios — e, ao mesmo tempo, para olhar para lugares completamente novos. Hoje, estou voltando a me permitir a loucura da descoberta: um material atrás do outro, ideias que surgem de onde eu menos espero. Nada é garantido, mas tudo é possibilidade.

A Carlos Penna vem preparando a entrada em um novo capítulo. Ainda em construção, ainda sem todas as respostas, em breve revelado. Mas com a certeza de que a moda continua sendo, para mim, esse campo de liberdade e risco — onde o gesto pesquisa e a matéria tem voz.

E talvez seja justamente isso que mais me move agora: perceber que ainda há muito para explorar. E que eu não tenho pressa. O tempo, finalmente, está a favor da criação.

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